Passados 08 dias, contados da realização do 2o turno das eleições majoritárias que culminaram na eleição do Presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva -, o Povo Paiter Suruí vem a público expressar o seu integral apoio ao governo eleito, ao tempo em que requer das autoridades constituídas o firme empenho na desmobilização dos movimentos golpistas, financiados em prol da manutenção de atividades ilícitas promovidas em terras indígenas.
Nesse contexto, é fundamental salientar que os distúrbios gerados nas vias de circulação, notadamente nas estradas situadas em localidades adjacentes às terras indígenas situadas no interior dos Estados de Rondônia e do Mato Grosso, constituem – em si mesmos – a mais absurda expressão do velado objetivo de manutenção de garimpo ilegalmente exercido por terceiros, tal como o de contrabando de madeira não autorizada e de arrendamento de terras indígenas para a prática de pecuária extensiva.
Muito longe dos legítimos interesses comunitários, a manipulação de indígenas para contrapor deliberadamente os resultados das urnas e requisitar intervenção militar – mediante a obstrução de estradas federais – constitui conduta criminosa, atentatória à livre consciência destes indivíduos, agravada pelos ilícitos objetivos econômico-financeiros embutidos em seus ideais.
Relativamente aos Paiter Suruí, há muito é sabido que o seu sistema de governança institucional vigente veda a manifestação de indivíduos isoladamente considerados, em nome da comunidade, notadamente quando – a pretexto de liberdade de expressão, defesa ideológica de pautas governistas ou de autonomia para a gestão do território – objetivam ocultar o intuito de realização de atividades ambientalmente danosas.
Em verdade, estas manifestações têm sido exercidas em absoluta contrariedade à unânime deliberação dos caciques das diversas aldeias que integram a Comunidade Indígena Paiter Suruí, assim também em contrariedade à pública manifestação já realizada pelo Cacique Geral e Vice Cacique Geral do Povo Paiter, eleitos com poderes de representação políticoinstitucional, mediante sufrágio direto realizado no dia 17/09/2021.
Dito isto, o Povo Paiter Suruí vem à público repudiar toda e qualquer prática contrária ao resultado das eleições brasileiras, uma vez realizadas e concluídas de forma legítima e transparente, pese embora o assédio vivenciado pelas comunidades indígenas situadas na Amazônia legal – quer seja no período que antecedeu à realização do pleito eleitoral, quer agora, findadas as eleições.
Assim posto, é essencial que tanto a FUNAI, quanto o Ministério Público Federal e o Ministério da Justiça e Segurança Pública, em conjunto com as forças de segurança do executivo federal e estadual, passem a agir de forma sistemática e ordenada, no intuito de coibir a artificial proliferação das manifestações realizadas nas estradas adjacentes das terras indígenas situadas nos Estados de Rondônia e do Mato Grosso e identificar os financiadores destes movimentos.
Somente assim, garantir-se-á, na prática, a máxima priorização da rede de proteção socioambiental às comunidades indígenas envolvidas neste trágico cenário, de modo a afastar o ilícito recrutamento de indígenas para infraestruturação de movimentos refratários aos princípios e preceitos norteadores do Estado democrático de direito.
Cacoal, 7 de novembro de 2022
Almir Narayamoga Suruí
Cacique Geral do Povo Paiter Suruí
Uraan Anderson
Suruí Vice-Cacique Geral do Povo Paiter Suruí
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