Mostra “EntreMeadas” destaca trabalho em crochê da Cooperativa Lili, das presas de Tremembé
Da Redação
Um dos trabalhos em crochê desenvolvidos pela Cooperativa Lili – feito pelas presas de Tremembé apoiadas pelo Humanitas360 – está sendo exibido na mostra EntreMeadas, em cartaz no Sesc Vila Mariana, em São Paulo (Brasil). Com curadoria de Adélia Borges, a mostra destaca produções de vinte coletivos de artesãs do estado de São Paulo. Além da Lili, por exemplo, obras dos quilombos Ivaporunduva e Sapatu, das Rendeiras da Aldeia, das Artesãs da Linha Nove e da ex-empregada doméstica Lucinda Bento integram a exposição.
“Eu conheci o trabalho da Cooperativa Lili através dos designers Renato Imbroisi e Cristiana Pereira, que colaboraram no desenvolvimento das coleções, e me encantei”, conta a curadora. “São trabalhos de uma qualidade muito grande e que não tentam levar para as artesãs uma fórmula pronta, mas tirar o tema e a expressão artística da própria vivência delas”.
“É uma satisfação muito grande fazer parte disso e mostrar esse crochê muito bonito das meninas que estão lá em Tremembé. Que a gente consiga crescer e progredir com esse trabalho”, disse, com emoção, Glaucia Celsa Lima, uma das cooperadas da Lili que está agora em liberdade e esteve na abertura da mostra. Ela lembrou ainda das oficinas promovidas pelo Humanitas360 quando ainda estava presa, em que aprendeu a fazer bordados que ainda não conhecia, como os pontos kilt e treliças. “A gente foi unindo as necessidades de cada uma que se encontrava ali”, lembra Thomaz.
Adélia Borges também frisou a importância da continuidade do trabalho da Lili: “Acho que ele tem tudo para ser replicado em vários presídios brasileiros, porque é um trabalho que respeita a detenta, [e é muito interessante] que a renda se reverta para elas também”, destacando que a absorção da população carcerária no mercado de trabalho é um problema muito grave no Brasil.
Em meio à suspensão das operações da Cooperativa Lili no presídio de Tremembé pelo governo paulista, Glaucia Celsa Lima questionou os motivos da paralisação: “Quando vem esse trabalho que começa a tocar a questão da arte, [a estimular] o que cada um que está lá dentro tem de melhor para oferecer, vem um veto desse”. Na época das oficinas, a cooperada chegou a recusar uma oferta de ida para o regime semi-aberto para continuar aprendendo as técnicas de costura. “É um sonho para todas nós. Ali existem diversas artistas”.
Dentre as outras obras da mostra, um destaque são as tapeçarias de Lucinda Bento, mineira de São Gonçalo do Sapucaí que trabalhou como empregada doméstica em São Paulo e desde 81 mora em Américo Brasiliense, município próximo de Araraquara. O trabalho dela inclui fibra de bananeira, juta, taboa e algodão. Já o trançado de Odete Coradini utiliza palha de milho para reproduzir uma trama em formato de estrela, sua marca registrada. A mostra EntreMeadas segue em cartaz até 9 de fevereiro no Sesc Vila Mariana.