Poder à Legalidade Já

Poder à Legalidade Já

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Por Piero Bonadeo, vice-presidente da Humanitas360

A corrupção está em ascendência na América Latina. O número de casos relacionados à corrupção está aumentando, e indivíduos agora têm uma percepção maior e reagem mais ativamente contra a corrupção. Na América Latina, entre os cinco chefes de estado/governos com as menores taxas de aprovação na região (Brasil, Peru, México, Honduras e Venezuela), quatro destes são de países com a menor taxa de transparência [1] (Brasil, México, Peru, Venezuela).

Para latino-americanos, a corrupção é indicada como a terceira ameaça mais urgente. Devido aos 15 anos de crescimento econômico, desenvolveu-se uma classe média maior e mais fortalecida, que está participando mais ativamente na democracia e não está disposta a aceitar silenciosamente casos relevantes de corrupção. Isso, juntamente com o uso de novas tecnologias e mídias sociais, está entre os fatores chaves no processo de combate à corrupção.

Portanto, pode-se dizer que o desenvolvimento e ascendência das classes baixa e média na América Latina são fatores importantes para iniciar protestos e aumentar a intolerância à corrupção. Contudo, corrupção está afetando a sociedade como um todo. Casos milionários de corrupção têm consequências para todos: indivíduos vivendo pouco acima da linha de pobreza, classes de baixa, média e alta renda.

Enquanto Humanitas360, acreditamos que devemos empoderar aqueles que estão nos dois extremos dos níveis de renda: os mais pobres e os mais ricos. Esses são os que mais precisam criar uma cultura de transparência e legalidade. Eles deveriam levar esta missão para suas vidas diárias e se tornar líderes na dinâmica de prestação de contas. Os pobres são os que mais pagam como consequência da corrupção, mas, na maioria das vezes, eles sofrem de corrupção trivial. Aqueles sendo obrigados a pagar por instituições corruptas em suas vidas cotidianas devem ser empoderados a dizer “não”. Como? Através da construção de legalidade em seus contextos, permanecendo juntos para promover a legalidade, engajando com instituições, usando as mídias sociais e outras plataformas para levantar suas vozes. Aqueles que ocupam cargos executivos em corporações também devem dizer “não” à corrupção. Como? Colocando, a todo custo, a dignidade e a cidadania à frente de negócios; aplicando as leis, regulamentações e boas práticas, elementos que a maioria das empresas já possue, mas que às vezes são somente palavras no papel.

Similaridades entre o que está acontecendo no Brasil e a operação judiciária “Mãos Limpas” na Itália vem sendo apontadas. Além das práticas e técnicas de procuradoria, esperamos que o Brasil possa viver os melhores resultados da onda de consequências da operação Mãos Limpas: o término ou a renovação de grandes partidos políticos através de eleições populares, a renovação dos políticos, mudanças na atitude do povo em relação à corrupção e uma aceleração na construção de uma cultura de legalidade. Outros resultados foram a criação de instituições mais fortes e uma grande reação da população contra o terrorismo da máfia. É importante notar que os resultados do voto popular ou como os partidos lidaram com a corrupção após a operação Mãos Limpas é outra história.

Os latino-americanos, especialmente os brasileiros, têm a oportunidade de criar democracias mais inclusivas e participativas através de movimentos locais que promovem a legalidade. Não deixem o momento passar; trabalhem juntos neste processo.

[1] Latinbarometro and Transparecy International Index