Cooperativa em penitenciária feminina de São Paulo terá produtos de artesanato com design diferenciado
Uma oficina com o designer Renato Imbroisi e 50 detentas da Penitenciária Feminina II de Tremembé, no interior paulista, deu a largada oficial no projeto do Humanitas360 para criar ali a segunda cooperativa de detentas do Brasil. Inspirado na iniciativa pioneira do Centro de Recuperação Feminino (CRF) de Ananindeua, na periferia de Belém do Pará, a ação faz parte de uma parceria do H360 com a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP/SP) e o Departamento Estadual de Execuções Criminais (Deecrim/SP).
O projeto é desenvolvido com apoio do Conselho da Comunidade de Taubaté (CCVEC), grupo voluntário de cidadãos da região, que apóia a Justiça no dia-a-dia da execução criminal. “Nosso trabalho consiste em ter um contato humano e fraterno com os presidiários”, diz Maria Teresa Ivo, presidente do Conselho.
Renato Imbroisi tem uma lista extensa de contribuições a projetos sociais com comunidades de artesãs, no Brasil e em países da África, sempre em parceria com Cristiana Pereira Barretto. Em Tremembé, eles pretendem desenvolver os talentos manuais já existentes entre as detentas beneficiadas pelo programa, de bordado e crochê à costura e pintura. Para Imbroisi, além de trabalhar novas habilidades, seu objetivo principal é que as detentas “desenvolvam a confiança, o relacionamento e a capacidade de ouvir o outro”.
Segundo levantamento realizado pelos coordenadores da pioneira cooperativa de detentas em Ananindeua, no Pará, constatou-se que, até junho de 2017, nenhuma das 209 mulheres que passaram pela Cooperativa de Arte Feminina (COOSTAFE) reincidiu no crime. Segundo Carmen Botelho, diretora da penitenciária feminina, a estatística prova que o êxito na reinserção de ex-detentos na sociedade está diretamente ligada com as oportunidades dadas aos presos durante o cumprimento da pena.
“A própria sociedade que nos cobra essa capacitação não dá oportunidade às presas mostrarem que verdadeiramente são capazes de dar um novo rumo a sua vida”, diz Botelho. As cooperativas, assim, viabilizam a oportunidade não só de uma ocupação no dia-a-dia da prisão, como de um propósito, uma fonte de renda e a redução drástica na probabilidade de volta ao cárcere. E, como já acontece em Belém do Pará, as detentas paulistas também terão apoio para administrar o dinheiro das vendas e ajudar suas famílias com a renda. “A gente as transforma em empreendedoras aqui dentro”, completa Botelho.
Aperfeiçoando o modelo introduzido no Pará, o projeto do H360 em Tremembé traz três novidades importantes. Primeiro, o apoio do Conselho da Comunidade, que auxilia no relacionamento com os funcionários das penitenciárias e com os próprios detentos, além de garantir o apoio da Justiça, indispensável no equacionamento de vários detalhes da iniciativa. Segundo, um design aprimorado para os produtos, e finalmente a criação de uma marca com grande apelo de marketing. Esses diferenciais vão permitir a inserção do artesanato das detentas em um circuito de alto poder aquisitivo, garantindo maior margem de lucro para a cooperativa.
A cooperativa de Tremembé é apenas o segundo projeto da espécie no país, mas seu impacto pôde ser notado desde a primeira oficina, que uniu conselho, artesãos, detentas e a equipe do H360. Segundo uma das detentas, Juliana, de 32 anos, essa iniciativa mostra que “a sociedade não esqueceu da gente. É uma chance de recomeçar”. Motivado pela mesma premissa, Imbroisi encerrou o primeiro evento, constatando: “Todo mundo sabe as coisas boas e ruins que fez. Aqui, vamos começar algo bom e novo”.